quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Visão Olfactiva...

24 de Outubro de 2008, 16:20h, Lixeira da Isabel, Lagoa, V. N. Famalicão.
"Despojos do jardim da minha vizinha Isabel, "...flores venhas?!" "

25 de Outubro de 2008, 14:10h, Jardim S. Lázaro, Porto.
"Resíduos em deterioração, papéis, pastilhas elásticas,...uma maçã."


 27 de Outubro de 2008, 11:32h, Jardim S. Lázaro, Porto.
"Lixo! Uma meia usada e abandonada, ao pé de uma caixote de lixo."


Deambulando sobre “lixos e aromas”.

Dediquei-me à captura de imagens de resíduos, “restos”, “desperdícios” que habitam o nosso contexto e que provocam um estímulo que remeta para o sentido do olfacto.

Seleccionei três fotografias neste sentido. A imagem de flores que recolhi nos despojos de um jardim. Apesar de mortas, conservam a aparência enganosa de uma planta ainda viva e perfumada.
O fundo de um depósito de lixo envolve em si restos, que de orgânicos, libertam aromas cada vez mais intensos aquando do seu processo de deterioração.
A fotografia de uma meia usada, suja, abandonada no chão ao pé de um caixote de lixo de um espaço público, remete para odores meritórios de uma reacção de repulsa, no mínimo de virar a cara!

A visão transfere-nos pois, imagens desencadeadoras de memórias de sensações olfactivas.

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O que muitas vezes tratamos como lixo social!!

"Preso ao Abandono", Rua da Alegria, Porto

26 Outubro, 19h00.


"Sozinho na multidão", Rua de Sta. Catarina, Porto
20 de Outubro 2008, 17h00



"Olhar a Solidão", Praça da Batalha, Porto,

20 de Outubro 2008, 17h50


Baseando-me no tema adoptado,“Lixos e Cheiros”, decidi envredar por uma perspectiva social, na medida em que muitas vezes percepcionamos situações em que nos tornamos meros espectadores, sem nelas intervir, desprovidos de qualquer sentido de cidadania. Uma apatia tão presente que tratamos as situações como lixo: indiferença, desinteresse, desprendimento, insensibilidade e nausea. Enquanto os protagonistas destas circunstancias tentam a todo o custo chamar a atenção dos transeuntes, estes demonstram uma certa indiferença e talvez mesmo desprezo pela sua situação. Ao reflectir sobre estas imagens, repensei os valores que hoje em dia nos guiam, questionando como seria possível manter uma atitude passiva perante tamanho cenário, numa demonstração de que nos preocupamos com o mundo onde vivemos e nas marcas que neste queremos deixar! Para muitos, era mais um "pedaço de lixo", desprovido do cheiro peculiar, antes um odor semelhante, esquecido pelo tempo e pelas próprias pessoas. Apesar da minha susceptibilidade, não deixei de me sentir impotente.


O lixo da comida








Os mesmos vegetais que utilizamos servir para a confecção de um prato apetitosodeixam também os seus restos. O lixo que facilmente descartamos.
Somos levados a consumir, guiados pelo cheiro que nos invade os sentidos.
Por outro lado, o restante é rejeitado e deitado fora, juntando-se ao restante lixo, decompondo-se e libertando cheiros que nos repelem e afastam.
Somos guiados pelos sentidos que tantos nos convidam a aceitar como nos levam a repelir tudo aquilo com que nos cruzamos diariamente.

Lixo... é Luxo?

Caroço de pêssego
Autor: Constança Correia
Local: Porto
Data: Agosto 08 22h00


Tulipa seca
Autor: Constança Correia
Local: Porto
Data: Fevereiro 08 23h00

Folhas secas
Autor: Constança Correia
Local: Porto
Data: Outubro 08 17h00


O cheiro de um pêssego que no seu interior revela mais que um caroço: mescla de cores e texturas apelativas. Uma prenda perfumada que se torna descartável, ainda percebida como algo belo. Lixo que, ao acolher, deixa de o ser, jogando com a luz e o pormenor numa composição de Outono. Exemplos destes asseguram que uma máquina fotográfica tem o poder de transformar lixo em luxo; algo efémero está agora guardado e enaltecido, e quem quiser vê com outros olhos algo mundano, agora afirmado como arte.

O cheiro é a alma do lixo






O cheiro é a alma do lixo
A nuvem sobre o caixote resultou de um acaso - a luz da janela - mas dá transcendência a este artefacto de que não conseguimos libertar-nos, mesmo numa era de sofisticação; e no saco do lixo, destruímos ainda a criatividade publicitária; um acto de design autofágico continuado nos contentores, que perturbam a beleza tradicional da praça, mesmo que procurem uma relação honesta de convívio; representam, com evidência visual e cultural, as contradições da nossa civilização.

(Por José Mateus)

também é lixo

23 de outubro 2008, 18:34h, Jardim de S. Lázaro
"prostituta"

23 de outubro 2008, 18:41h, Jardim de S. Lázaro
"sem abrigo"

23 de Outubro 2008, 18:38h, Jardim de S. Lázaro
"idosos jogando cartas"

Tendo como tema: "lixo e aromas" e como tarefa a recolha de imagens, optei por orientar essa recolha, na procura do chamado "lixo social". Por isso, fotografei pessoas que, por diversos motivos são "marginais" de uma cidade que os acolhe diariamente pelas suas ruas. Das imagens recolhidas resolvi destacar estas três pelo facto de terem sido tiradas num raio de 50 metros sensivelmente, num local onde há uma concentração deste fenómeno social, nomeadamente a prostituição, os sem abrigo, e os idosos. Este último, não pela elevada idade que têm, mas sim por serem pessoas que não têm apoios por parte das autarquias e por acabarem por se reunir em determinados locais numa luta pessoal contra a solidão. há ainda um acréscimo neste local, que integra o meu trabalho, os aromas lá existentes, que são desagradáveis e que aumentam a conotação daquele espaço. São aromas provenientes de um estabelecimento de restauração, que espalha um cheiro a fritos por uma vasta área, e como se já n fosse o suficiente há ainda um WC publico, que é usado frequentemente, mas é limpo com pouca frequência.  

terça-feira, 28 de outubro de 2008